O Milagre do Engano
“E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens”. (Apocalipse 13:13)
As Duas Testemunhas haviam abalado o mundo.
Vídeos circulavam, mesmo após os esforços do Conselho Global em removê-los. Os profetas falavam com autoridade, causavam secas, previam terremotos e anunciavam a queda do império de Diclivius.
Multidões começavam a questionar:
— E se eles estiverem certos?
— E se Diclivius não for o salvador… mas o inimigo?
Janas, o Profeta Supremo da Igreja Unificada, percebeu o risco.
— “O povo precisa de um sinal. Um grande sinal“.
E então, ele arquitetou o maior espetáculo da fé manipulada já visto.
O ATENTADO DA MENTIRA
Em um pronunciamento global, Diclivius anunciava medidas de controle total dos recursos naturais. Mas, no meio da transmissão, uma explosão interrompeu o sinal.
A tela tremeu. Um estrondo. Câmeras captaram gritos, correria e sangue.
“ATENTADO EM TEMPO REAL!”, anunciavam os canais.
A explosão teria sido causada por terroristas da Resistência, segundo o porta-voz da Nova Ordem. Todos os olhares se voltaram para os Guerreiros da Luz. Samuel, Elias, Raquel, Lucas… passaram a ser os inimigos número um da humanidade.
— “Eles mataram nosso líder!” — dizia o noticiário.
Pouco depois, Diclivius foi levado inconsciente ao Hospital Internacional de Orion, em uma área protegida da capital global.
O anúncio veio em tom fúnebre: “Diclivius Macmillan está morto!”
Milhões choraram nas ruas. Bandeiras foram abaixadas. A estátua inacabada dele em Jerusalém foi coberta com pano preto.
Mas Janas, vestido com túnicas cerimoniais, convocou uma coletiva:
— “O universo não concluiu seu plano. A divindade ainda está presente. A morte não pode deter aquele que carrega a luz de todos os credos!”
A RESSURREIÇÃO ENCENADA
Transmissão ao vivo. Todos os olhos do mundo conectados.
Janas chegou ao hospital em uma limusine presidencial.
Soldados abriram caminho entre repórteres e drones. Médicos tentaram barrá-lo.
— “O paciente está morto.”
— “A divindade não morre!” — bradou Janas.
Invadiu a sala cirúrgica. Empurrou portas. Gritou aos céus:
“Energia que mantém o cosmos, luz que habita nos portais da vida, manifesto do divino, desperta teu avatar!”
As câmeras mostravam enfermeiros boquiabertos. Janas impôs as mãos sobre o corpo imóvel de Diclivius.
De repente, o monitor cardíaco voltou a apitar.
E então…
Diclivius se ergueu.
Calmo. Revigorado. Os olhos… brilhavam com um tom sobrenatural.
Ele olhou para Janas e sussurrou: “Está consumado!”
A multidão em frente ao hospital explodiu. Pessoas se ajoelharam. Fogos de artifício. Cânticos da Ecclesia Unum.
Nas redes, a frase viralizou: Diclivius É Deus!
A REAÇÃO DO MUNDO
Governantes enviaram presentes.
Comércios distribuíram brindes em comemoração.
Pessoas tatuaram seu rosto.
Muitas religiões anunciaram que ele era a reencarnação esperada. Alguns o chamaram de “Messias”. Outros, de “Cristo Cósmico”. Até mesmo religiosos “cristãos liberais” o declararam o Filho da Nova Humanidade.
E então, em sua primeira fala pós-“ressurreição”, Diclivius declarou:
— “A partir de agora, a fé será unificada. Nenhum outro nome será aceito em oposição à Unidade“.
A Perseguição das Vozes que Não se Calam
“E virão os dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis… então começarão a dizer aos montes: Caí sobre nós“. (Lucas 23:29-30)
Jerusalém debaixo de fogo
Em Jerusalém, as Duas Testemunhas continuavam pregando:
— “Esse não é o Cristo. É a besta! Sua ressurreição é falsificação. Seu poder vem do abismo!”
Mas agora… ninguém os ouvia.
A multidão os chamava de malucos. Falsos profetas. Inimigos da paz.
A Ecclesia Unum lançou uma campanha: “Silencie a maldição. Abrace o renascido.”
Cartazes com as Testemunhas eram queimados. Seus rostos impressos em cartazes como terroristas. Até crianças os apedrejavam.
Porém… ninguém conseguia tocá-los.
Inexplicavelmente fogo saía de suas bocas quando eram emboscados. Raios partiam do céu quando os cercavam.
Mas o coração do povo… se fechava.
A Resistência em Ponto de Ruptura
Nos abrigos secretos, os Guerreiros da Luz assistiam à “ressurreição” em choque.
Lucas caiu de joelhos.
— “O mundo está perdido…”
Samuel cerrou os punhos.
— “Isso nunca foi sobre o mundo. É sobre os que ainda podem escolher.”
Miguel escreveu a nova manchete da Última Trombeta:
“Eles creem na mentira. Mas ainda existe verdade!”
Elias reuniu o grupo.
— “Ouçam… O Quarto Selo se aproxima. O Cavaleiro Amarelo virá. A morte tomará corpos, mas não almas. Estamos entrando na parte mais sombria da Tribulação. Precisamos decidir agora… morrer como fiéis ou viver como traidores.”
Gabriel ergueu a arma.
— “Então que venham. Não vamos recuar.”
A Última Palavra
Em Jerusalém, mesmo desacreditadas, as Duas Testemunhas continuaram a profetizar. Suas palavras agora eram transmitidas secretamente por um canal pirata da Resistência.
Elas diziam:
— “A besta reviveu… mas seu fim já está selado.”
— “Os fiéis serão provados como ouro no fogo.”
— “E em breve… cairão as trombetas.”
O mundo acreditava ter testemunhado um milagre.
Mas o céu chorava.
E os verdadeiros escolhidos… se preparavam para enfrentar o selo da morte.