“O Show Tem Que Parar: A Igreja Não É Um Espetáculo”
Há alguns anos, a hashtag #OShowTemQueParar viralizou nas redes sociais, gerando reflexões profundas sobre a espetacularização do evangelho. Exorcismos e curas eram transformados em atrações televisivas, promovendo denominações específicas e líderes religiosos, enquanto o nome de Cristo era secundarizado. Parecia que, enfim, haveria um despertar para a simplicidade do Evangelho. Porém, o tempo passou e, em vez de parar, o show se reinventou e ampliou seu alcance.
Hoje, o problema é ainda mais grave: igrejas sérias, antes comprometidas com a pregação genuína da Palavra de Deus, se transformam em espaços de entretenimento. Pastores e cantores assumem o papel de celebridades, e a pregação se torna um produto secundário, eclipsado por luzes, fumaça e performances. Mas qual é o custo espiritual dessa transformação?
O Evangelho Espetacularizado
O apóstolo Paulo declarou: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1 Coríntios 2:2). No entanto, em muitas igrejas, Cristo deixou de ser o centro. O púlpito, antes dedicado à exposição das Escrituras, cede espaço a um palco, onde a mensagem é diluída para agradar às massas. A cura, o exorcismo e os milagres são apresentados não como evidências da glória de Deus, mas como estratégias de marketing para atrair seguidores.
Ao invés de glorificar a Cristo, esses atos são usados para construir marcas denominacionais e carreiras pessoais. O evangelho, que deveria ser “o poder de Deus para a salvação” (Romanos 1:16), é trocado por slogans de impacto e uma agenda de autoglorificação.
A Transformação do Culto em Show
O culto cristão tem como objetivo principal glorificar a Deus. É um momento de adoração, edificação e comunhão. Porém, o que vemos hoje é uma transformação preocupante. Muitos cultos passaram a se assemelhar a shows, onde o entretenimento prevalece sobre o ensino. As igrejas se equipam com estruturas dignas de grandes espetáculos: iluminação teatral, telões gigantes, palcos sofisticados e ingressos pagos para eventos especiais.
Esse cenário cria uma mentalidade consumista entre os fiéis, que passam a frequentar a igreja como consumidores de uma experiência, e não como discípulos comprometidos com Cristo. O foco deixa de ser o discipulado e se concentra na “experiência” que o evento pode oferecer.
O Perigo das Celebridades Religiosas
Pastores e cantores que deveriam ser servos (Mateus 23:11) se tornaram ídolos. Eles acumulam agendas lotadas, cachês exorbitantes e uma aura de intocabilidade. Não são poucos os que vivem como estrelas do show business, cercados de fãs ao invés de irmãos. Esse comportamento é incompatível com o exemplo de humildade de Jesus, que veio para servir e dar a Sua vida (Marcos 10:45).
A Igreja de Cristo não precisa de celebridades, mas de homens e mulheres comprometidos com a verdade bíblica e com a missão de fazer discípulos. Quando o líder se torna o centro das atenções, ele desvia o olhar do povo de Cristo e o coloca sobre si mesmo – uma forma perigosa de idolatria.
A Igreja Não é Uma Casa de Shows
Jesus, ao purificar o templo, disse: “A minha casa será chamada casa de oração, mas vós a tendes transformado em covil de ladrões” (Mateus 21:13). O mesmo princípio vale para os nossos dias. A igreja não é um espaço para lucrar com ingressos, VIPs, ou produtos de marca; é um local consagrado ao Senhor, onde vidas são transformadas pelo poder do Espírito Santo e pelo ensino fiel das Escrituras.
A espetacularização do evangelho não apenas distorce a mensagem cristã, mas também exclui aqueles que não podem pagar para participar desses eventos. O evangelho é gratuito (Isaías 55:1), e a igreja deve refletir essa realidade em sua prática.
A Solução: Voltar ao Evangelho Puro e Simples
O show só vai parar quando líderes e igrejas voltarem à essência do evangelho. Isso significa:
- Colocar Cristo no Centro: A mensagem deve ser Jesus Cristo e este crucificado, não uma denominação ou líder específico.
- Priorizar o Discipulado: Investir em pessoas, ensinando-as a obedecer a Palavra de Deus (Mateus 28:19-20).
- Rejeitar a Comodificação da Fé: Eventos, produtos e mensagens não podem ser mercadorias. O evangelho é gratuito.
- Viver com Humildade: Pastores e líderes devem ser exemplos de serviço, não de ostentação.
- Restaurar o Culto Verdadeiro: Adoração autêntica não precisa de espetáculos. O coração contrito é suficiente para agradar a Deus (Salmos 51:17).
Conclusão: A Igreja Que Deus Quer
O show tem que parar, não por pressão humana, mas porque a igreja pertence a Cristo, e Ele não divide Sua glória com ninguém (Isaías 42:8). O propósito da igreja é proclamar a glória de Deus, não promover um espetáculo humano. Se continuarmos nesse caminho, corremos o risco de ouvir do Senhor: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:23).
Que Deus nos ajude a sermos fiéis, retornando ao evangelho puro e simples, e rejeitando qualquer forma de espetacularização que desvie a atenção de Cristo. A igreja não é um show. É o corpo de Cristo em ação no mundo, proclamando a Sua glória e vivendo em obediência à Sua Palavra. Amém!