LIÇÃO 07: AS NATUREZAS HUMANA E DIVINA DE JESUS
COMENTÁRIO EXEGÉTICO PROFUNDO DA LEITURA BÍBLICA EM CLASSE – Romanos 1:1-4; Filipenses 2:5-11
ROMANOS 1:1 – “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus.”
Introdução ao Contexto
Romanos 1:1 é a saudação inicial da epístola aos Romanos, considerada a carta teológica mais profunda do apóstolo Paulo. Escrito por volta de 57-58 d.C., este versículo apresenta três elementos fundamentais sobre Paulo:
- Sua identidade e serviço (servo de Jesus Cristo).
- Seu chamado específico (chamado para apóstolo).
- Sua missão principal (separado para o evangelho de Deus).
Essas expressões não são meros títulos, mas revelam a teologia paulina do ministério: ser servo de Cristo significa total submissão; ser apóstolo indica autoridade e missão; e ser separado para o evangelho enfatiza a centralidade da mensagem de Deus.
Palavras-chave no Grego
- “Servo” (δοῦλος – doulos). A palavra δοῦλος (doulos) significa “escravo, servo submisso”.
- Aplicação Teológica. No mundo greco-romano, doulos designava um escravo de propriedade de alguém. Paulo se identifica como escravo de Cristo, indicando total rendição e obediência. Esse título remete aos servos de Deus no Antigo Testamento, como Moisés (δοῦλος Θεοῦ – servo de Deus, Js 1:2) e os profetas (Am 3:7). Paulo usa doulos para contrastar sua antiga posição de opositor de Cristo (At 9:1-5) com sua nova condição de servo totalmente devotado. Para Paulo, ser doulos não era uma posição degradante, mas um título de honra. Ele reconhece que pertence inteiramente a Cristo (1 Co 6:19-20).
- “Chamado” (κλητός – klētos). A palavra κλητός (klētos) significa “convocado, escolhido, chamado com propósito”.
- Aplicação Teológica. Paulo não se fez apóstolo, mas foi chamado por Deus. Sua vocação não veio de homens, mas de Cristo (Gl 1:1, 15-16). No contexto bíblico, klētos enfatiza um chamado irrevogável e divino (Rm 11:29). Isso se conecta com a experiência de Paulo no caminho de Damasco (At 9:3-6), onde Jesus o chamou pessoalmente para ser testemunha aos gentios. Esse chamado reafirma que o ministério é um ato soberano de Deus, não uma escolha pessoal.
- “Separado para o evangelho de Deus”. A palavra “separado” (ἀφωρισμένος – aphōrisménos) significa “colocado à parte, consagrado para um propósito específico”.
- Interpretação Teológica. Paulo foi “separado” desde o ventre materno (Gl 1:15), indicando a soberania de Deus sobre seu chamado. O termo aphōrisménos também se relaciona com a consagração sacerdotal no Antigo Testamento. Assim como os levitas eram separados para o serviço no templo, Paulo foi separado para anunciar o evangelho. A expressão “evangelho de Deus” enfatiza que a mensagem que ele prega não é sua, mas do próprio Deus (1 Ts 2:13). Paulo vê sua vida completamente dedicada à propagação do evangelho. Ele não está apenas pregando boas notícias, mas cumprindo uma missão divina.
Aspectos Históricos e Culturais
No mundo greco-romano, ser escravo era algo humilhante. Mas Paulo inverte essa lógica, apresentando a servidão a Cristo como o maior privilégio.
- O título “apóstolo” (ἀπόστολος – apóstolos) era usado para mensageiros oficiais, enviados por alguém com autoridade.
- O termo “separado” tinha conotação sacerdotal no judaísmo, indicando que Paulo via seu ministério como um serviço sagrado.
Conexão com a Teologia Bíblica. Romanos 1:1 reflete três princípios fundamentais da teologia do ministério cristão:
- Submissão total a Cristo – Todo verdadeiro ministro do evangelho deve ser, antes de tudo, um servo de Cristo.
- Chamado divino para o ministério – O serviço no Reino de Deus não é uma escolha humana, mas uma convocação soberana.
- Dedicação exclusiva ao evangelho – Assim como Paulo foi separado para essa missão, nós também somos chamados a viver para o evangelho.

ROMANOS 1:2 – “O qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Santas Escrituras,”
Romanos 1:2 é uma extensão do versículo anterior, onde Paulo se apresenta como servo, apóstolo e separado para o evangelho de Deus. Agora, ele reforça a antiguidade e autenticidade desse evangelho, declarando que não se trata de algo novo, mas de uma promessa feita por Deus desde o Antigo Testamento.
Com isso, Paulo estabelece uma ponte entre o judaísmo e o cristianismo, mostrando que o evangelho não é uma ruptura com o passado, mas o cumprimento daquilo que os profetas anunciaram. Essa afirmação fortalece sua argumentação diante dos judeus e dá autoridade à sua mensagem perante os gentios.
Palavras-chave no Grego
- “Prometido” (προεπηγγείλατο – proepēngílato). O verbo προεπηγγείλατο (proepēngílato) significa “prometer antecipadamente, garantir de antemão”.
- Aplicação Teológica. O prefixo προ (pro) enfatiza que a promessa do evangelho foi feita antes, ou seja, não surgiu com Paulo nem com a Igreja, mas foi estabelecida desde os tempos antigos. Esse verbo aparece no indicativo aoristo médio, indicando que Deus fez essa promessa por iniciativa própria e garantiu seu cumprimento. Essa promessa já estava presente em textos como Gênesis 3:15 (a promessa do descendente da mulher), Isaías 53 (o Servo Sofredor) e Jeremias 31:31-34 (a nova aliança). Isso mostra que o evangelho não é um plano alternativo, mas o cumprimento da promessa original de Deus para a redenção da humanidade.
- “Profetas” (προφητῶν – prophētōn). A palavra προφήτης (prophētēs) significa “porta-voz de Deus, aquele que proclama a vontade divina”.
- Aplicação Teológica. Os profetas do Antigo Testamento eram os intermediários entre Deus e o povo, e sua missão incluía anunciar a vinda do Messias e a salvação futura (Dt 18:15, Is 7:14, Is 9:6, Mq 5:2). Paulo mostra que o evangelho já estava presente nas profecias, provando que Cristo não foi um acidente na história, mas o cumprimento das Escrituras (Lc 24:27, 44-46). Ao destacar os profetas, Paulo reforça a continuidade entre a fé judaica e a fé cristã, preparando o terreno para sua argumentação nos capítulos seguintes de Romanos. Essa ênfase é crucial para sua audiência, pois muitos judeus viam o evangelho como algo novo e estranho. Paulo, no entanto, prova que o evangelho é a consumação da revelação profética.
- “Nas Santas Escrituras”. A expressão “Santas Escrituras” (ἐν γραφαῖς ἁγίαις – en graphais hagiais) aparece apenas aqui no Novo Testamento.
- Interpretação Teológica. A palavra γραφὰς (graphas) significa “escritos sagrados, Escrituras”, referindo-se ao Antigo Testamento, pois o Novo Testamento ainda não estava completo. O adjetivo ἁγίαις (hagiais) significa “santo, separado para Deus”, indicando que esses escritos não são palavras humanas, mas divinas. Paulo ensina que a autoridade das Escrituras é absoluta, pois nelas Deus já havia revelado seu plano redentor. Isso reforça 2 Timóteo 3:16: “Toda Escritura é divinamente inspirada”. Dessa forma, Paulo confirma que o evangelho não é uma inovação teológica, mas a concretização daquilo que as Escrituras sempre anunciaram.
Romanos 1:2 confirma três verdades fundamentais:
- O evangelho é um cumprimento, não uma novidade – Deus sempre planejou a salvação através de Cristo, e os profetas anunciaram isso séculos antes.
- As Escrituras são a base da fé cristã – Todo ensino verdadeiro deve estar alicerçado na Palavra de Deus.
- Cristo é o centro da revelação bíblica – Desde Gênesis até Malaquias, toda a Escritura aponta para Jesus como o Messias prometido.

ROMANOS 1:3 – “Acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi, segundo a carne,”
Romanos 1:3 continua a explicação de Paulo sobre o evangelho de Deus, agora focalizando sua pessoa central: Jesus Cristo. O apóstolo enfatiza duas verdades cruciais sobre Cristo:
- Ele é o Filho de Deus – Identidade divina.
- Ele nasceu da descendência de Davi segundo a carne – Identidade humana e messiânica.
Esse versículo contém elementos essenciais da cristologia paulina, mostrando que Jesus é tanto verdadeiramente Deus quanto verdadeiramente homem.
Palavras-chave no Grego
- “Filho” (υἱοῦ – huiou). A palavra υἱός (huios) significa “filho, descendente, herdeiro”.
- Aplicação Teológica. Essa palavra não indica apenas uma relação biológica, mas um título de autoridade e posição especial. No Antigo Testamento, o título Filho de Deus era usado para o rei messiânico (Sl 2:7) e também para Israel (Êx 4:22). No contexto paulino, Filho de Deus significa que Cristo compartilha da natureza divina do Pai, sendo eternamente gerado, e não criado (Jo 1:1, 18). Essa expressão é central para entender a divindade de Cristo, pois Paulo não vê Jesus como um mero profeta, mas como o próprio Filho de Deus, em um relacionamento único com o Pai.
- “Segundo a carne” (κατὰ σάρκα – kata sarka). A expressão κατὰ σάρκα (kata sarka) significa “de acordo com a carne, segundo a natureza humana”.
- Aplicação Teológica. A palavra σάρξ (sarx) refere-se à natureza humana de Cristo, enfatizando sua verdadeira encarnação. Isso significa que Jesus não apenas parecia humano, mas era plenamente homem, sujeito a fraquezas físicas e limitações humanas (Hb 2:14). Ao contrastar kata sarka com sua exaltação posterior (Rm 1:4), Paulo mostra a dualidade da natureza de Cristo: plena humanidade e plena divindade. Essa expressão refuta heresias docetistas, que afirmavam que Jesus apenas parecia ser humano. Cristo foi 100% homem, descendente real de Davi, conforme as Escrituras predisseram. “Da descendência de Davi”. A frase “da descendência de Davi” confirma que Jesus é o Messias prometido.
- Interpretação Teológica. A linhagem davídica era essencial para a identidade do Messias (2 Sm 7:12-14). Profecias como Isaías 11:1 (“do tronco de Jessé sairá um rebento”) e Jeremias 23:5 confirmam que o Cristo viria da casa de Davi. O Novo Testamento enfatiza essa linhagem em Mateus 1:1 e Lucas 3:23-38. Paulo está deixando claro que Jesus cumpre a aliança davídica e é o legítimo Rei messiânico de Israel, validando sua identidade real e messiânica.
Aspectos Históricos e Culturais
No contexto judaico, a descendência davídica era crucial para qualquer alegação messiânica. Falsos messias frequentemente tentavam traçar sua linhagem até Davi para ganhar credibilidade. Os fariseus esperavam um Messias político, mas Jesus surpreendeu ao vir como servo sofredor antes de reinar gloriosamente. Ao destacar a linhagem davídica, Paulo reforça que Jesus não é apenas uma figura espiritual, mas o legítimo herdeiro do trono prometido a Davi.
Romanos 1:3 confirma três verdades fundamentais:
- Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem – Sua identidade não pode ser reduzida apenas à humanidade ou à divindade.
- Jesus é o cumprimento da promessa davídica – Ele é o Rei legítimo e o Messias esperado.
- O evangelho é enraizado na história da redenção – O nascimento de Jesus não foi um evento aleatório, mas parte do plano soberano de Deus. Essa visão reforça a continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento, provando que o cristianismo não é uma nova religião, mas o cumprimento das promessas de Deus a Israel.

ROMANOS 1:4 – “Declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor.”
Romanos 1:4 dá continuidade à apresentação de Jesus Cristo, iniciada no versículo anterior. Enquanto Romanos 1:3 enfatiza a humanidade de Cristo (“segundo a carne”), este versículo destaca sua divindade e exaltação. Aqui, Paulo revela a plena identidade de Cristo como Filho de Deus, ressaltando três aspectos fundamentais:
- Sua Filiação Divina (declarado Filho de Deus em poder).
- A obra do Espírito Santo na sua consagração (segundo o Espírito de santificação).
- A ressurreição como prova suprema de sua divindade (pela ressurreição dos mortos).
Este versículo refuta qualquer visão que negue a divindade de Cristo, pois Paulo ensina que a ressurreição revelou publicamente sua identidade divina.
Palavras-chave no Grego
- “Declarado” (ὁρισθέντος – horisthéntos). O verbo ὁρίζω (horízō) significa “determinar, designar, marcar com clareza”.
- Aplicação Teológica. Esse verbo está no aoristo passivo, indicando que Deus Pai é o agente que declarou publicamente a identidade de Cristo. O termo horízō não significa que Jesus se tornou Filho de Deus na ressurreição, mas que foi manifestado como tal com poder. Antes da ressurreição, a filiação de Cristo já era uma realidade (Jo 1:1-3; Cl 1:15-17), mas agora essa verdade é confirmada e demonstrada universalmente. Isso reforça a ideia de que a ressurreição de Cristo não apenas o justificou, mas também declarou sua soberania e glória ao mundo.
- “Poder” (δυνάμει – dynamei). A palavra δύναμις (dýnamis) significa “força, poder sobrenatural, capacidade divina”.
- Aplicação Teológica. Esse termo é frequentemente usado no Novo Testamento para descrever o poder de Deus em ação, especialmente na ressurreição (Ef 1:19-20). A ressurreição de Cristo não foi apenas um evento histórico, mas a maior manifestação do poder de Deus. Esse poder prova que Jesus não é apenas um profeta ou líder religioso, mas o Filho de Deus exaltado e glorificado. Essa verdade é crucial para a fé cristã: sem a ressurreição, Cristo seria apenas mais um líder morto; com a ressurreição, Ele é Senhor sobre a morte e a vida.
“Segundo o Espírito de santificação“. Essa expressão pode ser interpretada de duas formas:
- Refere-se ao Espírito Santo – Como o agente da ressurreição e da santificação (Rm 8:11).
- Refere-se à santidade essencial de Cristo – Destacando sua perfeição moral e separação do pecado (Hb 7:26).
Interpretação Teológica. O Espírito Santo é frequentemente associado ao poder da ressurreição (Rm 8:11). A ressurreição de Cristo confirma que Ele não apenas viveu uma vida santa, mas é o próprio Santo de Deus (At 2:27).
Essa expressão também mostra que a obra de Cristo não foi apenas histórica, mas espiritual, operada pelo Espírito Santo para a salvação dos crentes.
“Pela ressurreição dos mortos“. A ressurreição é o evento decisivo que autentica tudo o que Jesus disse e fez.
Interpretação Teológica.
- A ressurreição não concedeu a Cristo um novo status, mas revelou quem Ele sempre foi.
- Ela confirma sua vitória sobre o pecado e a morte (1 Co 15:17).
- Paulo enfatiza a universalidade da ressurreição, pois Cristo é “as primícias dos que dormem” (1 Co 15:20), garantindo a ressurreição dos crentes.
- A ressurreição é o centro da fé cristã – sem ela, o evangelho não teria poder (1 Co 15:14).
“Jesus Cristo, nosso Senhor”. Paulo conclui o versículo exaltando o senhorio de Cristo.
Interpretação Teológica
- “Jesus” (Ἰησοῦς – Iēsous) – Nome humano, enfatiza sua encarnação.
- “Cristo” (Χριστός – Christos) – O título messiânico, que significa “Ungido”.
- “Nosso Senhor” (Κύριος ἡμῶν – Kyrios hēmōn) – Título de soberania e domínio absoluto.
O título Kyrios reforça que Jesus não é apenas Messias, mas também Senhor absoluto sobre todas as coisas (Fp 2:9-11).
Romanos 1:4 confirma três verdades fundamentais:
- Jesus é o Filho de Deus em poder – A ressurreição confirmou sua identidade e soberania.
- O Espírito Santo está ativamente envolvido na obra de Cristo – Tanto na sua santidade quanto na sua ressurreição.
- O senhorio de Cristo é inquestionável – Sua exaltação é o cumprimento do plano eterno de Deus.

FILIPENSES 2:5 – “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,”
Introdução ao Contexto. A epístola aos Filipenses foi escrita pelo apóstolo Paulo durante sua prisão em Roma (provavelmente entre 60-62 d.C.). Os versículos 2:5-11 formam um dos trechos mais sublimes do Novo Testamento, conhecidos como o Cântico Cristológico, que exalta a humilhação e exaltação de Cristo. Esse texto reflete uma alta cristologia, revelando tanto a pré-existência quanto a encarnação de Cristo, servindo de modelo para a vida cristã.
Em Filipenses 2:5, Paulo exorta os crentes a adotarem a mesma disposição interior (φρόνημα – phrónēma) que Cristo teve. Ele não apenas apresenta uma doutrina, mas a conecta diretamente à vida prática da igreja, ressaltando a necessidade de humildade e serviço mútuo. Esse versículo funciona como um elo entre a exortação anterior sobre unidade (Filipenses 2:1-4) e a sublime exposição da kenosis (Filipenses 2:6-11).
Palavras-chave no Grego
- “Sentimento” (φρονέω – phronéō). A palavra φρονέω (phronéō) é o verbo central desse versículo e significa “pensar, ter uma mentalidade, disposição interior”. No Novo Testamento, phronéō não se refere apenas ao ato de pensar intelectualmente, mas a um modo de pensar que influencia toda a conduta de uma pessoa. Paulo frequentemente usa esse verbo para enfatizar uma mentalidade moldada pelo Evangelho (Rm 8:5; Cl 3:2).
- Aplicação Teológica. Paulo exorta os crentes a desenvolverem um modus operandi semelhante ao de Cristo, um pensar que não é egoísta, mas voltado para os outros. Isso é essencial na ética cristã: o discipulado genuíno exige uma transformação na forma de pensar, refletindo o caráter de Cristo (Rm 12:2). O conceito de phronéō aqui não é apenas uma sugestão moral, mas um chamado para a metanoia (mudança de mente), evidenciada pela humildade e pelo serviço.
- “Haja em vós” (φρονείτω – phroneítō). O verbo φρονείτω (phroneítō) está no imperativo presente ativo, indicando uma ação contínua. Paulo não apenas sugere, mas ordena que essa mentalidade seja algo habitual e constante na vida dos crentes.
- Aplicação Teológica. A ordem paulina não se restringe a um momento de inspiração espiritual, mas aponta para uma transformação progressiva da comunidade cristã. O pensamento de Cristo deve ser internalizado e vivido diariamente. O uso do imperativo indica que essa mentalidade não é natural ao ser humano caído, mas precisa ser cultivada pela ação do Espírito Santo (Gl 5:22-23).
Aspectos Históricos e Culturais
A cidade de Filipos era uma colônia romana, e seus cidadãos estavam profundamente influenciados pela mentalidade do Império. Na cultura romana, a busca por status, honra e reconhecimento era central. A humildade era vista como fraqueza, e a exaltação pessoal era desejada.
Quando Paulo desafia os filipenses a assumirem a mesma mentalidade de Cristo, ele confronta diretamente a mentalidade da época. Cristo, sendo Deus, não buscou poder terreno, mas se humilhou. Esse chamado para imitar a humildade de Cristo é um golpe contra a cultura romana e, por extensão, contra toda mentalidade mundana que exalta o ego.
- Filipenses 2:5 estabelece o princípio fundamental da vida cristã: a imitação de Cristo. O chamado à humildade e ao serviço não é opcional, mas essencial para aqueles que pertencem a Ele. Paulo nos ensina que a verdadeira grandeza não está em dominar, mas em servir.
- O desafio para a igreja moderna é o mesmo: substituir uma mentalidade autocentrada por uma mentalidade cristocêntrica. A verdadeira maturidade espiritual não se mede por títulos ou posição, mas por uma disposição de pensar e agir como Cristo.
- Que esta exortação de Paulo ecoe em nossos corações: “Haja em vós o mesmo pensamento, a mesma disposição interior que houve também em Cristo Jesus”.

FILIPENSES 2:6 – “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus,”
Filipenses 2:6 inicia o chamado Cântico Cristológico (2:6-11), uma das passagens mais teologicamente ricas do Novo Testamento. Aqui, Paulo apresenta a preexistência de Cristo, sua divindade e sua atitude de humildade. O versículo faz um forte contraste entre a natureza divina de Cristo e sua decisão voluntária de se esvaziar (kenosis), revelando o cerne do evangelho: Deus se fez servo para salvar a humanidade.
Este versículo contém termos que geraram muitos debates teológicos, especialmente sobre a relação entre a divindade e a humanidade de Cristo. A frase “sendo em forma de Deus” (ἐν μορφῇ Θεοῦ ὑπάρχων – en morphē Theou hyparchōn) estabelece a sua divindade desde a eternidade. No entanto, Cristo não considerou sua igualdade com Deus algo a ser retido egoisticamente, mas, ao contrário, escolheu se humilhar.
Palavras-chave no Grego
- “Sendo” (ὑπάρχων – hyparchōn). O verbo ὑπάρχων (hyparchōn) é um particípio presente ativo, indicando uma realidade contínua. Diferente de um verbo no tempo aoristo (ação pontual no passado), o uso do presente sugere que a existência de Cristo na forma de Deus é eterna, não temporária.
- Aplicação Teológica. Este termo reforça a pré-existência de Cristo. Ele não “se tornou” Deus nem “adquiriu” divindade – Ele sempre foi Deus. Isso refuta qualquer interpretação que sugira que Jesus apenas assumiu um status divino após sua encarnação. Hyparchōn também transmite a ideia de que sua natureza divina não foi abandonada na encarnação. Ele permaneceu plenamente Deus, ainda que tenha assumido a forma humana (Jo 1:1, 14; Cl 1:15-17).
- “Forma” (μορφή – morphē). A palavra μορφή (morphē) significa essência, natureza ou condição própria de algo que o define em sua totalidade. No grego clássico, morphē não significa apenas aparência externa, mas a realidade interna e essencial de um ser.
- Aplicação Teológica. O uso de morphē Theou (forma de Deus) indica que Jesus possui a mesma essência de Deus Pai. Ele não é uma criatura exaltada ou um ser inferior dentro da Trindade – Ele é plenamente divino. Essa palavra destaca que Cristo não apenas refletia Deus, mas era Deus em sua plenitude. Isso concorda com passagens como Colossenses 2:9 (“porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”) e João 14:9 (“quem me vê a mim vê o Pai”).
- “Não teve por usurpação ser igual a Deus”. O restante do versículo traz uma afirmação paradoxal: Cristo, sendo igual a Deus, não considerou isso como harpagmós (ἁρπαγμός), termo que pode significar “algo a ser tomado à força” ou “algo a ser segurado com firmeza”.
- Interpretação Teológica. Ao contrário de Adão (Gn 3:5), que tentou “ser como Deus” por meio da desobediência, Cristo, que já era Deus, não considerou sua posição algo a ser usado para seu próprio benefício, mas escolheu se esvaziar. Cristo não abriu mão da sua divindade, mas sim dos privilégios da glória divina, assumindo a posição de servo. Isso reflete um dos princípios centrais do evangelho: a grandeza não está em exaltar-se, mas em humilhar-se (Mt 20:26-28).
Aspectos Históricos e Culturais
A mentalidade greco-romana via a busca pelo poder e status como um ideal. Os deuses pagãos eram descritos como competitivos e ávidos por glória. No entanto, Paulo apresenta um Deus que renuncia voluntariamente sua glória para servir. Essa mensagem era radical tanto para os gregos quanto para os judeus (1 Co 1:23).
A ideia de um Deus que se esvazia (no verso seguinte) desafiava diretamente a cultura imperial romana, onde o imperador se via como divino e exigia adoração. Enquanto César impunha sua soberania pelo poder, Cristo manifestou sua divindade pelo amor sacrificial.
Sobre este verso
Filipenses 2:6 apresenta uma das verdades mais profundas do cristianismo:
Jesus Cristo é Deus eterno, mas, por amor, escolheu a humildade. A sua encarnação não foi uma perda de divindade, mas uma demonstração suprema do caráter divino.
O desafio para os crentes é seguir esse modelo. Se Cristo, sendo Deus, não se agarrou à sua posição de glória, quanto mais nós devemos abandonar o orgulho e o desejo de autoexaltação! A verdadeira grandeza no Reino de Deus não se manifesta em poder terreno, mas em serviço humilde (Mc 10:45).
Filipenses 2:6 prepara o leitor para o clímax do hino cristológico – o grande esvaziamento (kenosis) de Cristo – que será tratado no próximo versículo.

FILIPENSES 2:7 – “Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;”
Filipenses 2:7 dá continuidade ao sublime Cântico Cristológico (2:6-11), descrevendo a decisão voluntária de Cristo de se esvaziar (kenosis). Esse verso é fundamental na teologia da encarnação e já foi debatido ao longo da história para compreender o que significa que Cristo “aniquilou-se a si mesmo”.
O termo grego para “aniquilou-se” (ekenōsen) deu origem à doutrina da Kenosis, que trata do esvaziamento de Cristo ao assumir a forma humana. Esse esvaziamento, no entanto, não significa que Ele deixou de ser Deus, mas sim que renunciou a certos privilégios divinos para cumprir o plano da redenção.
Cristo não veio ao mundo com glória visível, como um rei terreno, mas tomou a forma de servo. Esse ato reflete o coração do evangelho: o Deus Todo-Poderoso escolheu se humilhar para salvar a humanidade.
Palavras-chave no Grego
- “Aniquilou-se a si mesmo” (ἐκένωσεν – ekenōsen). O verbo ἐκένωσεν (ekenōsen) vem de κενόω (kenóō), que significa “esvaziar, anular, despojar”. No contexto deste versículo, refere-se ao ato voluntário de Cristo de abrir mão de sua glória celestial para assumir a condição humana.
- Aplicação Teológica. Cristo não deixou de ser Deus (Cl 2:9), mas renunciou ao exercício independente de seus atributos divinos. Isso significa que, durante sua encarnação, Ele não usou sua onipotência, onisciência e onipresença para seu próprio benefício (Jo 5:19; Mt 24:36). Esse esvaziamento foi funcional, não essencial. Ele continuou sendo plenamente Deus, mas viveu como um verdadeiro homem, dependendo do Pai e do Espírito Santo (Lc 4:1,14). O verbo ekenōsen revela a natureza sacrificial de Cristo: Ele não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos (Mc 10:45).
- “Forma de servo” (μορφὴν δούλου – morphēn doulou). A palavra μορφὴ (morphē), já usada no verso 6 (“forma de Deus”), aparece novamente aqui, mas agora associada a δούλος (doulos), que significa servo ou escravo.
- Aplicação Teológica. Assim como Cristo possuía a morphē Theou (forma de Deus), Ele também assumiu plenamente a morphēn doulou (forma de servo). Isso indica que sua servidão não foi superficial ou temporária, mas uma realidade autêntica e profunda. O termo doulos não significa apenas “servo” no sentido de um empregado, mas “escravo”, alguém que não tem direitos próprios e vive para cumprir a vontade de seu senhor. Jesus viveu em total obediência ao Pai (Jo 6:38; Hb 5:8) e serviu os outros, até mesmo lavando os pés de seus discípulos (Jo 13:5).
- “Fazendo-se semelhante aos homens”. A expressão “fazendo-se semelhante” (ἐν ὁμοιώματι ἀνθρώπων γενόμενος – en homoiōmati anthrōpōn genomenos) enfatiza que Cristo se tornou verdadeiramente humano. Ele não apenas “parecia” homem, mas era um homem real, com limitações físicas e sujeito às condições humanas (Jo 1:14).
- Interpretação Teológica. A palavra ὁμοίωμα (homoiōma) significa “semelhança”, mas sem indicar falsidade. Jesus era plenamente humano, porém sem pecado (Hb 4:15). O termo γενόμενος (genomenos), que significa “tornou-se”, reforça a realidade da encarnação. Jesus não foi um espírito apenas aparentando ser humano (docetismo), mas de fato nasceu, cresceu e viveu como um homem real (Lc 2:52). A humanidade de Cristo é essencial para a redenção: Ele precisava ser 100% homem para morrer em nosso lugar e 100% Deus para que seu sacrifício tivesse valor infinito (1Tm 2:5-6).
Aspectos Históricos e Culturais
O conceito de humildade era desprezado na cultura greco-romana. O ideal do homem nobre era alguém que demonstrava poder e controle sobre os outros. Os imperadores romanos se consideravam semideuses, exigindo submissão.
Por isso, a mensagem de Filipenses 2:7 era radical:
- Cristo não nasceu em um palácio, mas em uma manjedoura (Lc 2:7).
- Ele não veio como um guerreiro, mas como um carpinteiro (Mc 6:3).
- Não governou um império terreno, mas morreu como um criminoso na cruz (Fp 2:8). Essa mensagem confrontava tanto os judeus, que esperavam um Messias conquistador, quanto os gentios, que valorizavam status e prestígio.

FILIPENSES 2:8 – “E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz.”
Filipenses 2:8 continua a descida voluntária de Cristo, que já havia sido descrita nos versículos anteriores. Agora, Paulo enfatiza três aspectos cruciais:
- Cristo foi achado na forma de homem (anthrōpos), confirmando sua humanidade plena.
- Ele se humilhou voluntariamente (tapeinōsen heauton), indicando um ato consciente de submissão.
- Ele foi obediente até à morte na cruz, a forma mais vergonhosa de execução na cultura romana.
Esse versículo atinge o ponto mais baixo da kenosis (esvaziamento) de Cristo antes de Sua glorificação nos versículos seguintes. Enquanto o mundo buscava status e reconhecimento, Jesus trilhou o caminho da maior humilhação para cumprir o plano redentor de Deus.
Palavras-chave no Grego
- “Humilhou-se a si mesmo” (ἐταπείνωσεν ἑαυτὸν – etapeinōsen heauton). O verbo ἐταπείνωσεν (etapeinōsen) vem de ταπεινόω (tapeinoō), que significa “rebaixar-se, humilhar-se, abaixar-se voluntariamente”. A estrutura reflexiva (heauton) enfatiza que Cristo não foi forçado a se humilhar – Ele o fez voluntariamente.
- Aplicação Teológica. Na cultura greco-romana, humildade era considerada uma fraqueza, não uma virtude. Contudo, Jesus redefiniu a grandeza como serviço (Mc 10:45). Ele escolheu se tornar inferior, mesmo tendo todo o direito à exaltação. Isso cumpre a profecia de Isaías 53:3: “Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens”. A teologia cristã é radicalmente oposta ao pensamento mundano: Deus se humilhou para exaltar os humildes (Mt 23:12).
- “Obediente” (ὑπήκοος – hypēkoos). O adjetivo ὑπήκοος (hypēkoos) significa “aquele que ouve e obedece plenamente”. É derivado de ὑπακούω (hypakouō), que significa “ouvir com submissão”.
- Aplicação Teológica. Cristo não apenas obedeceu, mas foi plenamente submisso ao plano do Pai (Jo 6:38). Sua obediência foi progressiva, culminando no sacrifício máximo. Ele viveu como servo (Fp 2:7), mas morreu como o Cordeiro de Deus (Jo 1:29). Esse conceito se conecta com Romanos 5:19: “Porque, como pela desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.” “Até à morte e morte de cruz”. A expressão “morte de cruz” (thanatou de staurou) destaca a forma extrema da obediência de Cristo. A cruz era um instrumento de vergonha pública e sofrimento excruciante, reservado para criminosos e rebeldes contra Roma.
Aspectos Históricos e Culturais
A crucificação era a forma mais humilhante de pena de morte. Era considerada tão degradante que um cidadão romano não podia ser crucificado, exceto em casos extremos de traição.
Entre os judeus, ser pendurado em uma árvore era sinal de maldição divina (Dt 21:23; Gl 3:13). Jesus não apenas sofreu fisicamente, mas carregou a maldição do pecado da humanidade.
O apóstolo Paulo enfatiza esse detalhe porque, para os gregos e romanos, um deus nunca poderia ser crucificado – isso era inconcebível e escandaloso (1 Co 1:23).
A Descida Suprema Antes da Exaltação. O padrão literário desse hino cristológico segue uma estrutura de descida e ascensão:
- Pré-existência divina (Fp 2:6)
- Encanação e servidão (Fp 2:7)
- Obediência até a morte de cruz (Fp 2:8) → Ponto mais baixo
- Exaltação pelo Pai (Fp 2:9-11)
A trajetória de Cristo reflete o princípio espiritual da exaltação pela humildade. Ele foi ao ponto mais baixo da humilhação para ser elevado acima de todo nome.

FILIPENSES 2:9 – “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome;”
Após descrever a humilhação extrema de Cristo em Filipenses 2:6-8, Paulo agora apresenta a glorificação de Cristo. O versículo 9 marca a grande virada no hino cristológico, mostrando a resposta divina à obediência de Cristo: exaltação suprema.
Este verso ensina que a trajetória de Cristo não terminou na cruz. Sua humilhação e morte não foram sinais de fracasso, mas de vitória, pois Deus Pai o “exaltou soberanamente” (hyperypsōsen). Esse ato confirma que o caminho da submissão e humildade conduz à verdadeira glória. Paulo utiliza uma linguagem majestosa para descrever a exaltação de Cristo, enfatizando que Ele recebeu um nome acima de todo nome, um título de soberania absoluta.
Palavras-chave no Grego
- “Exaltou soberanamente” (ὑπερύψωσεν – hyperýpsōsen). O verbo ὑπερύψωσεν (hyperýpsōsen) vem de ὑπερύψόω (hyperypsóō), que significa “exaltar sobremaneira, elevar acima de tudo”.
Aplicação Teológica. Esse verbo aparece no aoristo ativo indicativo, indicando uma ação pontual e decisiva: Deus exaltou Cristo de uma vez por todas, de forma definitiva. A construção com ὑπέρ (hypér) adiciona ênfase, mostrando que Cristo não foi simplesmente elevado, mas colocado acima de toda a criação.
A exaltação de Cristo inclui:
- Ressurreição – Cristo venceu a morte (At 2:24).
- Ascensão – Ele subiu à direita de Deus (At 1:9-11).
- Entronização – Cristo reina com poder absoluto (Ef 1:20-22).
Assim como Cristo se humilhou voluntariamente, Deus o exaltou soberanamente. Isso reflete um princípio central do Reino de Deus: quem se humilha será exaltado (Mt 23:12).
- “Nome” (ὄνομα – ónoma). A palavra ὄνομα (ónoma) significa “nome, título, autoridade”. No contexto bíblico, o “nome” representa identidade, caráter e poder.
- Aplicação Teológica. O fato de Deus dar a Cristo “um nome acima de todo nome” indica que Ele recebeu uma posição suprema de autoridade. Esse nome está ligado ao Senhorio de Cristo, o que é confirmado no verso 11: “Jesus Cristo é Senhor” (Κύριος Ἰησοῦς Χριστός – Kyrios Iēsous Christos). No Antigo Testamento, “nome acima de todo nome” era uma referência exclusiva a Deus (Sl 8:1; Sl 148:13). Paulo, ao aplicar isso a Cristo, declara implicitamente sua divindade absoluta. A entrega do nome supremo a Cristo indica que Ele não é apenas um ser exaltado, mas o próprio Senhor do universo.
Aspectos Históricos e Culturais
No contexto do Império Romano, os imperadores frequentemente recebiam títulos divinos após a morte. César Augusto, por exemplo, foi chamado de “Filho do Divino Júlio” e honrado como senhor (dominus). Paulo desafia essa visão ao afirmar que a única exaltação verdadeira é a de Cristo. Seu senhorio não é dado por homens, mas pelo próprio Deus. Os judeus associavam o nome supremo ao próprio YHWH (Javé). Ao afirmar que Jesus recebeu esse nome, Paulo declara que Ele participa da glória divina.
O versículo segue a lógica da humilhação e exaltação:
- Descida: Cristo esvaziou-se (ekenōsen), tornando-se servo (Fp 2:7).
- Ponto mais baixo: Ele foi obediente até a cruz (Fp 2:8).
- Ascensão: Deus o exaltou acima de tudo (Fp 2:9).
Esse padrão se conecta com Isaías 53:12, onde o Servo Sofredor, após sua morte vicária, é grandemente exaltado.

FILIPENSES 2:10 – “Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra;”
Filipenses 2:10 segue a exaltação suprema de Cristo descrita no versículo anterior. Agora, Paulo revela a implicação cósmica da exaltação de Jesus: toda a criação se curvará diante d’Ele.
Este versículo ecoa Isaías 45:23, onde Deus declara:
“Por mim mesmo tenho jurado, saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás: que diante de mim se dobrará todo joelho, e por mim jurará toda língua.“
Ao aplicar essa profecia a Cristo, Paulo está declarando algo extraordinário: Jesus compartilha da mesma glória e autoridade de Deus.
Aqui vemos o clímax do hino cristológico: o Cristo que se humilhou (Fp 2:6-8) agora recebe adoração universal.
Palavras-chave no Grego
- “Dobre” (κάμψῃ – kampsē). O verbo κάμπτω (kamptō) significa “dobrar, curvar-se em submissão”.
- Aplicação Teológica. No contexto bíblico, dobrar os joelhos simboliza adoração e submissão total. Não é apenas um gesto físico, mas um reconhecimento de autoridade. Esse verbo está no subjuntivo aoristo ativo, indicando que esse ato será um evento universal e decisivo. Isso significa que, cedo ou tarde, toda criatura reconhecerá a soberania de Cristo – quer voluntariamente (salvos), quer à força (ímpios e potestades).
Paulo reforça a certeza desse evento: ninguém escapará desse reconhecimento.
“Nos céus, na terra e debaixo da terra” Essa tríade cobre toda a criação:
- “Nos céus” – Anjos e seres celestiais reconhecerão a autoridade de Cristo (Ap 5:11-12).
- “Na terra” – Todos os seres humanos, crentes e incrédulos, dobrarão os joelhos perante Ele.
- “Debaixo da terra” – Até os mortos e os poderes infernais se sujeitarão a Cristo (Ap 20:14).
Aplicação Teológica. Isso revela o senhorio absoluto de Cristo sobre toda a criação (Ef 1:20-22). Até os inimigos de Deus reconhecerão a supremacia de Jesus (Cl 2:15). Esse é um cumprimento escatológico: quando Cristo retornar, sua soberania será reconhecida por todos (Ap 19:16). Essa declaração ecoa a visão de Daniel 7:14, onde o Filho do Homem recebe domínio eterno sobre todas as nações.
Este versículo confirma três verdades teológicas fundamentais:
- Cristo é universalmente supremo – Seu senhorio será reconhecido por toda a criação.
- Cristo é o centro da história – Tudo converge para Ele (Cl 1:16-17).
- A soberania de Cristo é inescapável – Todos, voluntariamente ou não, reconhecerão seu governo. Este evento se concretizará plenamente na segunda vinda de Cristo, quando Ele julgará todas as nações e estabelecerá seu Reino eterno (Ap 22:12-13).

FILIPENSES 2:11 – “E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”
Este versículo encerra o sublime Hino Cristológico (Fp 2:6-11), que descreve a humilhação e exaltação de Cristo. Após sua obediência até a morte de cruz (Fp 2:8) e sua exaltação suprema por Deus (Fp 2:9-10), agora vem a declaração universal do senhorio de Jesus.
Aqui, Paulo reforça que não apenas todos se dobrarão diante de Cristo, mas também confessarão sua soberania. Essa confissão não é opcional nem limitada aos crentes, mas será um evento cósmico e inescapável, alinhado com Isaías 45:23:
“Por mim mesmo tenho jurado (…) que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda língua.“
Ao aplicar esse texto a Jesus, Paulo confirma que Ele compartilha da glória de Deus Pai, um forte indicativo de sua divindade.
Palavras-chave no Grego
- “Confesse” (ἐξομολογήσηται – exomologēsētai). O verbo ἐξομολογέω (exomologeō) significa “confessar publicamente, declarar plenamente, reconhecer abertamente”.
- Aplicação Teológica. O verbo está no subjuntivo aoristo médio, indicando um evento futuro e universal. Essa confissão não será silenciosa ou interna, mas pública e absoluta. Para os crentes, essa confissão é de adoração voluntária (Rm 10:9-10). Para os incrédulos e potestades malignas, será uma confissão forçada no juízo final (Mt 25:31-32). O uso desse verbo sugere que ninguém poderá negar a supremacia de Cristo quando esse dia chegar.
- “Senhor” (Κύριος – Kyrios). A palavra Κύριος (Kyrios) significa “Senhor, Mestre, Dono, Governante Supremo”.
- Aplicação Teológica. Kyrios era o título usado para descrever Deus no Antigo Testamento na Septuaginta (LXX). Aplicar Kyrios a Jesus é um forte indicativo de sua divindade. Isso significa que Jesus não é apenas um mestre ou líder religioso – Ele é Deus soberano. Esse título também era usado pelos imperadores romanos, que exigiam que os cidadãos declarassem: “César é Kyrios”. Paulo está confrontando diretamente essa ideologia, afirmando que o verdadeiro Kyrios não é César, mas Jesus Cristo!
Ao declarar que Jesus Cristo é Senhor, Paulo está reafirmando a doutrina central da fé cristã (Rm 10:9; 1 Co 12:3).
- “Para glória de Deus Pai”. A exaltação e confissão de Cristo não diminuem a glória do Pai, mas a ampliam. Isso reflete a perfeita unidade na Trindade:
- O Filho é glorificado pelo Pai (Jo 17:1).
- O Pai é glorificado no Filho (Jo 13:31-32).
- O Espírito Santo glorifica o Filho (Jo 16:14).
Essa expressão reforça que o propósito final da exaltação de Cristo é glorificar Deus Pai.
Aspectos Históricos e Culturais
Na cultura romana, confessar publicamente alguém como Kyrios significava submissão total a essa autoridade. O culto ao imperador exigia que as pessoas dissessem “César é Senhor”. Paulo declara que, no fim dos tempos, o único Senhor legítimo será Jesus Cristo. Esse versículo tem implicações políticas e espirituais profundas: o governo humano é temporário, mas o reinado de Cristo é eterno.
Conexão com a Teologia Bíblica
Filipenses 2:11 confirma três verdades centrais:
- Cristo será reconhecido universalmente como Senhor – Essa é uma profecia escatológica que se cumprirá completamente na Segunda Vinda (Ap 19:16).
- A confissão do Senhorio de Cristo define o destino eterno – Aqueles que fazem essa confissão agora pela fé serão salvos (Rm 10:9-10). Aqueles que se recusam a farão no juízo, mas sem salvação.
- O propósito final de todas as coisas é glorificar Deus Pai – A história não termina com a humanidade no centro, mas com Deus recebendo toda glória (Ef 1:10).