Antes de adentrar nas reflexões e estudos das lições propriamente ditas deste 2º trimestre de 2025, é importante acessar informações essenciais sobre o Evangelho de João. Pensando em te ajudar, reuni definições introdutórias, detalhes textuais dessa preciosa porção bíblica e, sobretudo, as bases da sua rica conjuntura teológica. Acredito que, como conteúdo introdutório para suas pesquisas e aprofundamentos, esta leitura será bastante agregadora.

AFINAL, O QUE É EVANGELHO?

DO PONTO DE VISTA BÍBLICO

A palavra evangelho vem do grego εὐαγγέλιον (euangelion), que significa “boa notícia” ou “boa nova“. Na Bíblia, o evangelho é: A boa notícia de que Deus enviou Seu Filho, Jesus Cristo, para salvar o mundo do pecado, conceder vida eterna e reconciliar o homem com Ele.

Versículos-chave:

“O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.” (Marcos 1:15)

“Cristo morreu por nossos pecados… foi sepultado… e ressuscitou ao terceiro dia…” (1 Coríntios 15:3-4)

Na Bíblia, evangelho é conteúdo, não apenas um tipo de livro. É a mensagem central da salvação.

DO PONTO DE VISTA HISTÓRICO

Historicamente, o termo evangelho já era usado no mundo greco-romano antes de Cristo, mas com outro sentido: boas notícias sobre um imperador ou vitória militar.

Os cristãos resgataram e redefiniram esse termo para anunciar:

• O nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus;
• O cumprimento das promessas do Antigo Testamento.

Os quatro evangelhos escritos no Novo Testamento — Mateus, Marcos, Lucas e João — são documentos históricos e teológicos que narram:

• Quem foi Jesus,
• O que Ele fez,
• O que Ele ensinou,
• Por que Ele morreu,
• E como ressuscitou.

Esses livros foram escritos entre cerca de 50 e 95 d.C., por testemunhas oculares ou por quem andou com elas, com o objetivo de preservar e proclamar a mensagem de Cristo às futuras gerações.

DO PONTO DE VISTA TEOLÓGICO

Teologicamente, o evangelho é o coração da fé cristã. Ele não é apenas uma biografia de Jesus, mas uma revelação divina com propósito redentor.

Os evangelhos revelam:

• A identidade de Jesus: Filho de Deus, Messias prometido.
• A obra de Jesus: redenção por meio da cruz e da ressurreição.
• O chamado de Jesus: arrependimento, fé e discipulado.
• A vitória final de Jesus: derrota do pecado e da morte.

Teologia prática:

• O evangelho transforma vidas (Rm 1:16).
• O evangelho forma a base da pregação cristã (1 Co 1:17-18).
• O evangelho define a missão da Igreja (Mc 16:15).

SOBRE O EVANGELHO DE JOÃO

Autoria. O autor do evangelho é o apóstolo João, também chamado de “o discípulo a quem Jesus amava” (Jo 21:20-24). Ele era filho de Zebedeu e irmão de Tiago, ambos pescadores e chamados pessoalmente por Jesus (Mt 4:21). João foi uma das testemunhas oculares mais próximas de Jesus, presente em momentos cruciais como a Transfiguração (Mt 17:1), a Última Ceia e a crucificação (Jo 19:26-27).

Data. Acredita-se que João tenha escrito seu evangelho entre 85 e 95 d.C., provavelmente em Éfeso, já no final da sua vida. Isso faz deste o evangelho mais tardio dos quatro.

Contexto Histórico. O Evangelho de João foi escrito numa época de grande tensão entre cristãos e judeus, especialmente após a destruição do Templo de Jerusalém (70 d.C.). João escreve para reforçar a fé da Igreja primitiva e combater heresias iniciais, como o docetismo (a crença de que Jesus apenas parecia ser humano) e influências gnósticas. Seu evangelho é mais teológico do que cronológico, com forte ênfase na identidade divina de Cristo.

POR QUE O EVANGELHO DE JOÃO NÃO É SINÓTICO?

O que significa “Sinótico”? A palavra “Sinótico” vem do grego synopsis, que significa “ver junto” ou “visão em conjunto”.

São Evangelhos Sinóticos: Mateus, Marcos e Lucas.

Esses três evangelhos são chamados de sinóticos porque:

1. Têm uma estrutura parecida.
2. Contam muitos dos mesmos episódios da vida de Jesus.
3. Usam palavras e sequências semelhantes.
4. Podem ser comparados lado a lado (como numa sinopse).

E o evangelho de João?

1. João não é sinótico porque tem:
2. Estilo e estrutura diferentes,
3. Milagres e discursos exclusivos,
4. Ênfase teológica profunda na identidade divina de Jesus.

Aqui estão alguns exemplos do que é exclusivo de João:

Milagres Exclusivos

1. Transformar água em vinho (Jo 2:1–11)
2. Cura do filho do oficial (Jo 4:46–54)
3. Cura do paralítico de Betesda (Jo 5:1–15)
4. Cura do cego de nascença (Jo 9)
5. Ressurreição de Lázaro (Jo 11)

Discursos Exclusivos de Jesus

1. Diálogo com Nicodemos sobre nascer de novo (Jo 3)
2. Conversa com a mulher samaritana (Jo 4)
3. Discurso sobre o pão da vida (Jo 6)
4. Discurso sobre o bom pastor (Jo 10)
5. Discurso de despedida com os discípulos (Jo 13–17), incluindo a oração sacerdotal (Jo 17)

Outros elementos exclusivos

1. A autoria da criação atribuída diretamente a Cristo (Jo 1:1–3)
2. A expressão “Verbo se fez carne” (Jo 1:14)
3. O lavar dos pés (Jo 13:1–17)
4. A descrição do Espírito como Consolador (Parakletos) (Jo 14–16)
5. O relato detalhado de diálogos íntimos entre Jesus e os discípulos
6. O reencontro com Pedro e a tríplice restauração (Jo 21)

POR QUE O EVANGELHO DE JOÃO É TÃO DIFERENTE?

Enquanto os sinóticos têm um tom mais narrativo e cronológico, João é contemplativo e teológico. Ele mesmo explica por que escreveu seu evangelho: “Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus…” (João 20:31)

João não quer apenas contar o que Jesus fez, mas revelar quem Jesus é e destaca:

1. A eternidade de Cristo (Jo 1:1)
2. A glória de Deus manifesta em Jesus
3. A divindade do Verbo
4. A necessidade da fé para a vida eterna
5. O ministério do Espírito Santo como Consolador
6. Os sinóticos abordam mais o Reino de Deus, parábolas, exorcismos, pregações públicas e o cumprimento profético em Israel.

QUAL O VALOR DESSA DIFERENÇA PARA NÓS HOJE?

1. Teologia da Fé. João constrói sua narrativa com foco no crer para ter vida (Jo 3:16; 5:24; 20:31). Ele fala da vida eterna como algo presente, não apenas futuro.
2. Cristologia elevada. Ajuda a Igreja de hoje a defender a divindade de Jesus, um ponto constantemente atacado por seitas, religiões e teologias liberais.
3. Evangelismo e discipulado. João é ideal para apresentar Jesus a novos convertidos de forma pessoal e profunda — muitos ministérios usam João como o primeiro evangelho a ser lido por quem está começando na fé.
4. Trindade e espiritualidade. Com sua ênfase no Espírito Santo, João oferece base sólida para a espiritualidade cristã bíblica — essencial num mundo repleto de misticismo e falsas espiritualidades.

COMO CRISTO FOI APRESENTADO NO EVANGELHO DE JOÃO?

João apresenta Jesus como o Verbo eterno de Deus, Deus encarnado, o Salvador enviado ao mundo. Diferente dos evangelhos sinóticos, ele não começa com o nascimento de Jesus, mas com a eternidade do Verbo:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (Jo 1:1)

Títulos que João usa para Cristo:

1. Verbo de Deus (Jo 1:1)
2. Cordeiro de Deus (Jo 1:29)
3. Filho de Deus (Jo 1:34)
4. Pão da Vida (Jo 6:35)
5. Luz do Mundo (Jo 8:12)
6. Bom Pastor (Jo 10:11)
7. Ressurreição e a Vida (Jo 11:25)
8. Caminho, Verdade e Vida (Jo 14:6)
9. Videira Verdadeira (Jo 15:1)

OS SETE SINAIS CITADOS SOMENTE NO EVANGELHO E JOÃO

“Jesus, pois, operou também, em presença de seus discípulos, muitos outros sinais… Estes, porém, foram escritos para que creiais…” (Jo 20:30-31)

1. Transformar água em vinho — João 2:1-11

• Significado: É o primeiro sinal público de Jesus. Mostra que Ele tem poder sobre a criação e é o Senhor da alegria verdadeira.
• Teologia: A água usada para purificação (judaísmo) é transformada em vinho (nova aliança). Jesus inaugura algo superior.
• Aponta para: Cristo como o autor de uma nova criação e iniciador de uma nova era.
• Aplicação: Só Jesus pode transformar o comum em extraordinário.

2. Cura do filho do oficial — João 4:46-54

• Significado: Cura à distância, apenas com a palavra. Jesus não precisava estar fisicamente presente.
• Teologia: Destaca a autoridade da Palavra de Cristo e a fé sem ver (Jo 4:50).
• Aponta para: Jesus como o Senhor da Palavra e da vida.
• Aplicação: A fé verdadeira crê antes de ver.

3. Cura do paralítico de Betesda — João 5:1-15

• Significado: Um homem enfermo há 38 anos é curado sem sequer pedir.
• Teologia: Jesus tem poder para restaurar totalmente, mesmo em casos considerados impossíveis.
• Aponta para: Cristo como o Senhor do sábado e da restauração física e espiritual.
• Aplicação: Jesus se move em graça, mesmo quando não entendemos o milagre.

4. Multiplicação dos pães e peixes — João 6:1-15

• Significado: Alimenta mais de 5.000 pessoas com cinco pães e dois peixinhos.
• Teologia: Remete ao maná do deserto. Jesus é o Pão da vida (Jo 6:35).
• Aponta para: Cristo como o supridor espiritual e físico do povo de Deus.
• Aplicação: Em Cristo há provisão abundante quando entregamos a Ele o pouco que temos.

5. Jesus anda sobre as águas — João 6:16-21

• Mar da Galileia, à noite, durante uma tempestade.
• Significado: Mostra domínio sobre as forças da natureza.
• Teologia: Só Deus caminha sobre as águas (Jó 9:8; Sl 77:19). Jesus revela Sua divindade.
• Aponta para: Cristo como o Senhor sobre o caos e o medo.
• Aplicação: Em meio à tempestade, a presença de Jesus traz paz.

6. Cura do cego de nascença — João 9:1-41

• Significado: O homem nunca tinha enxergado; o milagre é completo e progressivo.
• Teologia: Um sinal messiânico (Is 42:7). Os fariseus veem fisicamente, mas são cegos espiritualmente.
• Aponta para: Jesus como a Luz do mundo (Jo 9:5) que traz visão espiritual.
• Aplicação: A verdadeira cegueira é espiritual; Cristo é quem nos faz ver a verdade.

7. Ressurreição de Lázaro — João 11:1-44

• Significado: Lázaro já estava morto há quatro dias. Jesus o chama de volta à vida.
• Teologia: O maior sinal antes da Sua própria ressurreição. Prova que Jesus é a Ressurreição e a Vida (Jo 11:25).
• Aponta para: Cristo como o vencedor da morte.
• Aplicação: Só Jesus tem poder para nos chamar do sepulcro para a vida eterna.

Observações importantes: Os sinais são progressivos: começam com uma transformação (água em vinho) e culminam com a vitória sobre a morte (Lázaro). Cada milagre é um sermão visual que ensina uma verdade espiritual sobre quem Jesus é.

Ao concluir esta introdução ao Evangelho de João, espero que você esteja mais preparado para explorar suas lições com profundidade e clareza. Compreender o contexto, a autoria e os propósitos teológicos deste evangelho tornará sua jornada de aprendizado ou de ensino ainda mais ricas. Que esta leitura sirva como base firme para uma caminhada mais consciente no estudo das Escrituras e para uma fé cada vez mais enraizada em Cristo, o Verbo eterno revelado.