Ário foi um presbítero cristão do século IV (c. 256-336 d.C.) que viveu em Alexandria, no Egito. Ele é mais conhecido por suas controvérsias teológicas, que deram origem ao arianismo, uma doutrina considerada herética pela Igreja Cristã primitiva.
1º fato. Quem foi Ário?
Ário era um sacerdote influente e carismático, conhecido por sua eloquência e habilidades de persuasão. Ele estudou teologia na escola de Antioquia, que enfatizava uma interpretação mais literal das Escrituras, em contraste com a escola de Alexandria, que tendia a uma abordagem mais alegórica.
2º fato. Sua doutrina (Arianismo)
Ário defendia que Jesus Cristo, o Filho de Deus, não era coeterno nem consubstancial (da mesma substância) com Deus Pai. Ele argumentava que o Filho foi criado por Deus Pai e, portanto, havia um tempo em que o Filho não existia. Para Ário, Jesus era uma criatura elevada, mas não igual a Deus Pai em essência. Essa visão contrariava a doutrina ortodoxa da Trindade, que afirmava a igualdade e coeternidade das três pessoas da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
A controvérsia ariana causou grande divisão na Igreja, levando à convocação do Primeiro Concílio de Nicéia (325 d.C.), onde a doutrina de Ário foi condenada. O concílio estabeleceu o Credo Niceno, que afirmava a divindade plena de Cristo, declarando que Ele era “gerado, não criado, consubstancial ao Pai” (em grego, “homoousios”).

3º fato. Influência e propagação do arianismo
A heresia de Ário propagou-se rapidamente por várias razões:
- Eloquência e carisma de Ário: Ele era um pregador convincente e atraiu muitos seguidores, incluindo clérigos e leigos.
- Contexto político e social: O Império Romano do século IV estava em um período de transição, com o cristianismo ganhando influência após a conversão de Constantino. As disputas teológicas eram comuns, e o arianismo encontrou espaço para se espalhar, especialmente entre grupos que já tinham dificuldades em compreender a complexidade da doutrina da Trindade.
- Apoio de líderes políticos: Alguns imperadores romanos, como Constâncio II, simpatizavam com o arianismo ou o apoiavam por razões políticas, o que ajudou a disseminar a doutrina.
- Traduções e pregações: As ideias de Ário foram traduzidas para várias línguas e pregadas em diferentes regiões do Império Romano, incluindo o Oriente Médio, o Norte da África e partes da Europa.
4º fato. Reação da Igreja
A propagação do arianismo levou a Igreja a convocar o Primeiro Concílio de Nicéia em 325 d.C., onde a doutrina de Ário foi condenada como herética. O concílio formulou o Credo Niceno, que afirmava a consubstancialidade do Filho com o Pai. No entanto, o arianismo continuou a influenciar partes do Império Romano por várias décadas, especialmente entre os povos germânicos, como os visigodos e os vândalos, que adotaram a doutrina antes de se converterem ao cristianismo ortodoxo.
O arianismo foi uma das heresias mais significativas e controversas dos primeiros séculos do cristianismo, questionando a natureza divina de Jesus Cristo e sua relação com Deus Pai. Abaixo, apresento um resumo do contexto histórico, os principais argumentos bíblicos contra o arianismo e os principais oponentes cristãos que defenderam a ortodoxia.
5º fato. Principais Oponentes Cristãos ao Arianismo
Vários líderes e teólogos cristãos se destacaram na defesa da ortodoxia contra o arianismo. Entre eles:
- Santo Atanásio de Alexandria (296-373 d.C.)
- Um dos maiores defensores da doutrina da divindade de Cristo, Atanásio foi um firme opositor de Ário e desempenhou um papel crucial no Concílio de Nicéia. Sua obra “Sobre a Encarnação do Verbo” é um clássico da teologia cristã.
- Santo Hilário de Poitiers (310-367 d.C.)
- Conhecido como o “Atanásio do Ocidente”, Hilário escreveu extensivamente contra o arianismo, defendendo a consubstancialidade do Pai e do Filho.
- São Basílio, o Grande (329-379 d.C.)
- Um dos Padres Capadócios, Basílio contribuiu para a formulação da doutrina da Trindade e combateu as ideias arianas.
- São Gregório de Nazianzo (329-390 d.C.)
- Outro Padre Capadócio, Gregório defendeu a divindade de Cristo e a unidade da Trindade em seus sermões e escritos.
- Santo Ambrósio de Milão (340-397 d.C.)
- Bispo de Milão, Ambrósio foi um firme defensor da ortodoxia nicena e um influente líder na luta contra o arianismo no Ocidente.
6º fato. Principais Argumentos Bíblicos Contra o Arianismo
Os oponentes do arianismo basearam-se em várias passagens bíblicas para defender a divindade de Cristo e sua igualdade com o Pai. Aqui estão alguns dos principais argumentos:
- João 1:1-3, 14
- “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.”
- Este texto afirma a eternidade e a divindade de Cristo, identificando-O como o Criador, não uma criatura.
- João 8:58
- “Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.”
- Jesus usa o título “Eu Sou” (em grego, “ego eimi”), que remete ao nome divino revelado a Moisés em Êxodo 3:14, reivindicando assim sua eternidade e divindade.
- Colossenses 1:15-17
- “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois nele foram criadas todas as coisas… tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste.”
- Este texto enfatiza que Cristo não é uma criatura, mas o agente da criação e sustentador de todas as coisas.
- Filipenses 2:6-11
- “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus.”
- Paulo descreve Jesus como igual a Deus em natureza, embora tenha se humilhado ao tomar a forma de servo.
- Hebreus 1:3, 8
- “O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser… Mas acerca do Filho, diz: O teu trono, ó Deus, subsiste para todo o sempre.”
- O autor de Hebreus afirma claramente a divindade de Cristo.
7º fato. Declínio do arianismo
O arianismo perdeu força gradualmente após o Concílio de Constantinopla em 381 d.C., que reafirmou a ortodoxia trinitária. Com o tempo, a maioria dos grupos arianos se dissolveu ou se converteu ao cristianismo ortodoxo.
Em resumo, Ário foi uma figura influente cujas ideias desafiaram a doutrina cristã ortodoxa e geraram um dos maiores debates teológicos da história da Igreja. Sua heresia propagou-se devido a uma combinação de fatores teológicos, políticos e sociais, mas foi eventualmente suplantada pela ortodoxia trinitária.
Conclusão
O arianismo foi uma heresia que desafiou a compreensão cristã da natureza de Cristo e da Trindade. No entanto, através dos esforços dos primeiros teólogos e concílios da Igreja, a doutrina ortodoxa da divindade de Cristo foi firmemente estabelecida. Os argumentos bíblicos e a defesa dos Padres da Igreja continuam a ser fundamentais para a fé cristã, reafirmando que Jesus Cristo é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, consubstancial ao Pai e coeterno com Ele.
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