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A Banalização do Dom de Línguas: “The King, The Power, The Best…” (Parte 1)

A Banalização do Dom de Línguas

Um vídeo viral. Um pregador, entre um bordão de efeito e uma risada ensaiada, solta algumas frases em línguas. A congregação entra em euforia. Os comentários se multiplicam: “Que poder!”, “Olha a unção!”, “Isso sim é fogo!”. Mas, entre os aplausos e a comoção, fica uma pergunta que parece esquecida: o que a Bíblia realmente ensina sobre isso?

O dom de línguas, também conhecido como glossolalia, é um dos sinais mais marcantes do mover do Espírito Santo entre o povo de Deus – um fenômeno de natureza celestial, espiritual e profundamente reverente. Desde o Pentecostes, ele tem sido associado à manifestação sobrenatural do poder divino, à oração íntima entre o espírito humano e Deus, e à evidência de batismo com o Espírito Santo, conforme creem as tradições pentecostais clássicas.

Entretanto, nos últimos anos, esse dom tão precioso tem sido gradualmente esvaziado de sua função original e redirecionado para usos que nada têm a ver com a edificação espiritual ou com a glória de Deus. Transformou-se, em muitos casos, em um elemento de performance religiosa, um artifício de oratória emocional, uma “prova de fogo” para validar mensagens rasas, carismas manipulados e vaidades disfarçadas de fervor.

E assim, o que era para ser um sinal sagrado, tornou-se muitas vezes um selo teatral de autoridade improvisada. O dom, que deveria elevar corações ao céu, é usado para provocar aplausos na terra. O Espírito, que atua com profundidade e liberdade, é invocado para criar um clima, um ambiente ou um “efeito de palco”.

Capa2 A Bíblia Não Erra
A Banalização do Dom de Línguas: "The King, The Power, The Best..." (Parte 1) 3

Isso não significa, de forma alguma, que devamos desprezar o dom de línguas. Pelo contrário! O que se propõe neste artigo é exatamente o resgate da dignidade, da teologia e da reverência que cercam este dom tão especial. A banalização não se combate com silêncio, mas com luz. Precisamos estudar, compreender e aplicar corretamente o que as Escrituras ensinam sobre o dom de línguas — desde sua origem em Atos dos Apóstolos, seu uso prático em 1 Coríntios 12–14, até sua aplicação segura e frutífera na igreja contemporânea.

Se desejamos que o fogo do Pentecostes continue aceso em nossos dias, não podemos alimentar o fogo estranho do espetáculo religioso. Que o Espírito Santo, o mesmo que concedeu o dom, nos conceda também discernimento, reverência e fidelidade à sua Palavra.

A Origem e o Significado do Dom de Línguas nas Escrituras

A expressão “línguas estranhas” é uma adaptação tradicional nas traduções pentecostais da Bíblia, usada para descrever o dom espiritual de falar em uma linguagem não compreendida naturalmente pelo orador. No texto grego do Novo Testamento, a palavra usada é glóssa (γλῶσσα) — que pode significar tanto “idioma” quanto “língua” literal. Já a construção lalein glóssais (“falar em línguas”) refere-se a uma fala articulada inspirada pelo Espírito Santo.

O fenômeno das línguas aparece de modo notável em duas principais categorias nas Escrituras:

(1) Em Atos 2: Línguas humanas sobrenaturais — sinal da expansão do Reino. O primeiro registro do dom está em Atos 2, no dia de Pentecostes. Ali, os 120 discípulos foram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas (glóssais), conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Mas o texto deixa claro: as línguas eram inteligíveis aos estrangeiros ali presentes, cada qual ouvindo em sua própria língua natal: “Todos os temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.” (At 2:11)

Este episódio tem forte carga missiológica e escatológica. O Pentecostes reverte o episódio de Babel (Gn 11), onde Deus confundiu as línguas; agora, Ele une as nações através do poder do Espírito. É também um cumprimento da profecia de Joel (Jl 2:28-32), sinalizando que os últimos dias haviam começado. As línguas foram, portanto, um sinal de inclusão universal: o Evangelho não era mais apenas para judeus, mas para todos os povos.

(2) Em 1 Coríntios 12–14: Línguas espirituais como dom para a edificação. Nos capítulos 12 a 14 da Primeira Carta aos Coríntios, Paulo apresenta o dom de línguas em outro aspecto: não como sinal de expansão missional, mas como dom carismático de expressão espiritual no contexto da igreja local. Aqui, as línguas são descritas como:

  • uma linguagem incompreensível naturalmente, que necessita de interpretação (1 Co 14:2, 13);
  • uma oração ou fala direcionada a Deus (e não aos homens), útil para a edificação pessoal (1 Co 14:2, 4);
  • algo que, se usado publicamente, deve ser sempre acompanhado de interpretação inspirada, a fim de edificar o corpo (1 Co 14:5, 27-28).

Note que o mesmo dom pode servir a diferentes propósitos: em Atos, ele serve à evangelização e proclamação pública. Em Corinto, à edificação privada e comunal, quando em ordem. Isso demonstra que o Espírito Santo é multiforme em suas manifestações (1 Co 12:4), e que a finalidade do dom muda conforme o contexto — mas nunca sua fonte: o Espírito Santo.

Uma manifestação espontânea e divina, jamais manipulável. Tanto em Atos quanto em Coríntios, as línguas são descritas como resultado direto da ação soberana do Espírito Santo. O termo usado em Atos 2:4 — como o Espírito lhes concedia que falassem — indica que o impulso não vinha do homem, mas da iniciativa divina.

Não há em nenhum texto bíblico indícios de que as línguas pudessem ser treinadas, aprendidas ou provocadas artificialmente. Esse é um ponto teológico importante, pois nos previne contra práticas de manipulação emocional que se travestem de espiritualidade.

A verdadeira glossolalia é:

  • espontânea;
  • reverente;
  • espiritual;
  • e controlada pelo Espírito (1 Co 14:32).

Jamais se trata de uma performance vocal ou repetição mecânica de sons.

Aplicativo do pregador
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A Dimensão Teológica do Dom: Tesouro Espiritual com Direção Bíblica

Um dom carismático: graça concedida, não habilidade construída. Os dons do Espírito são chamados, no Novo Testamento, de charísmata — plural de charisma (χάρισμα), que significa literalmente “presente gracioso” ou “dom imerecido”. A raiz da palavra é charis, que significa graça. Isso nos leva a uma conclusão teológica fundamental: os dons espirituais não são recompensa por mérito, nem conquista por esforço.

Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”. (1 Coríntios 12:11)

Portanto, o dom de línguas não pode ser ensinado, treinado ou ensaiado. Ele é uma manifestação sobrenatural da graça de Deus, concedida conforme Sua soberana vontade.

A tentativa de imitar sons, repetir sílabas ensinadas ou simular manifestações para se encaixar em ambientes religiosos é espiritualmente perigosa. Não apenas pode gerar autoengano, mas também introduzir um culto carnal e estranho (Lv 10:1-2). A genuína manifestação do Espírito é inconfundível, espontânea e marcada por reverência e temor.

Edificação, e não exibição: a finalidade do dom segundo a Escritura. Um dos maiores problemas contemporâneos é o uso das línguas como ferramenta de ostentação espiritual. Paulo, em 1 Coríntios 14, combate precisamente esse tipo de uso desordenado e egocêntrico.

O que fala em língua estranha edifica-se a si mesmo; mas o que profetiza edifica a igreja.” (1 Coríntios 14:4)

O termo “edificar” (do grego oikodomē) indica o processo de construção espiritual, formação interior, crescimento no homem interior. Quando Paulo diz que o que fala em línguas edifica a si mesmo, ele não está repreendendo, mas destacando que há um lugar correto para essa prática: o ambiente devocional pessoal.

Já a edificação da comunidade exige comunicação inteligível. Quando alguém fala em línguas no culto, sem interpretação, ninguém compreende – e, por isso, ninguém cresce.

Logo, o dom de línguas, por mais valioso que seja, não deve ser usado como selo de superioridade espiritual, nem como vitrine litúrgica. Seu propósito é:

a comunhão pessoal com Deus;
a oração no Espírito (Ef 6:18);
e, quando interpretado, a edificação mútua.
O dom é para serviço, não para status.

O Espírito fala, mas também silencia — e isso também é ação divina. Muitos pensam que o Espírito Santo só age quando há agitação, barulho, e manifestações evidentes. No entanto, a Bíblia revela que o mesmo Espírito que se manifesta com poder, também atua no silêncio profundo e na introspecção reverente:

Depois do fogo, uma voz mansa e delicada…” (1 Reis 19:12)

A ação do Espírito não é medida pelo volume, mas pela profundidade. Quando alguém usa as línguas como espetáculo – para “confirmar” a própria fala ou impressionar o auditório – corre o risco de transformar o santo em instrumento profano. A profecia e os dons confirmam a Palavra, mas não são substitutos dela. Quando se usa uma manifestação espiritual para validar um ensino raso ou antibíblico, está-se subvertendo a ordem do Espírito, que jamais contradiz a Escritura.

As línguas não precisam de palco, mas de propósito. A edificação pessoal em oração, a comunhão íntima com Deus e a intercessão profunda são os principais ambientes onde o dom de línguas atua com plenitude. O culto público deve priorizar aquilo que edifica a todos. Por isso, Paulo ensina:

Se, pois, eu não souber o significado da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que fala será bárbaro para mim“. (1 Co 14:11)

O termo “bárbaro” aqui indica alguém incompreensível. Paulo rejeita, portanto, qualquer liturgia que gere ruído sem revelação. O Espírito não confunde. O Espírito ilumina.

Este estudo aprofundado sobre o uso banal do dom de línguas continua AQUI

Foto de Silvio Costa

Silvio Costa

Evangelista (COMADEESO / CGADB), Articulista, Conferencista, Escritor, Conteudista (ESTEMAD), Professor de Teologia (SEET / FATEG) e Gestor Hoteleiro por Profissão
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