A Jerusalém do Futuro: Comparando as Visões de Ezequiel e João

A profecia sobre a nova Jerusalém é um tema recorrente nas Escrituras, especialmente nos livros de Ezequiel e Apocalipse. Ambos os textos apresentam visões detalhadas de uma cidade ideal e restaurada, simbolizando a presença de Deus com seu povo. A análise das semelhanças e diferenças entre as visões de Ezequiel e João pode revelar aspectos importantes da teologia bíblica e do entendimento escatológico.

Alguns teólogos brasileiros que adotam a interpretação dispensacionalista e acreditam que Ezequiel 40 a 48 referem-se ao milênio de forma literal:

Antônio Gilberto foi um dos mais renomados teólogos pentecostais brasileiros, conhecido por suas contribuições à teologia e à educação cristã. Ele foi consultor teológico da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) e escreveu extensivamente sobre escatologia.

  • Perspectiva: Gilberto interpretou as visões de Ezequiel 40 a 48 como referentes a um templo literal que será construído durante o milênio. Ele vê essa passagem como uma promessa de restauração futura para Israel, onde Cristo reinará em Jerusalém.

Esequias Soares é um teólogo, pastor e escritor brasileiro, conhecido por seu trabalho na área de escatologia e teologia bíblica. Ele é presidente da Comissão de Apologética da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB).

  • Perspectiva: Soares defende a interpretação literal das profecias de Ezequiel, argumentando que o templo descrito nos capítulos 40 a 48 será realmente construído durante o período milenar, cumprindo as promessas de Deus à nação de Israel.

Francisco Lacueva foi um teólogo espanhol, muito respeitado entre os evangélicos brasileiros, especialmente nas Assembleias de Deus (embora de outra denominação – sua linha era dispensacional pré milenar).

  • Perspectiva: Lacueva interpretou as visões de Ezequiel como profecias literais a serem cumpridas no milênio. Ele acreditava que a restauração do templo e da ordem sacerdotal descritas por Ezequiel se realizariam quando Cristo estabelecesse seu reino na Terra.

Myer Pearlman foi um teólogo judeu-cristão cujos trabalhos são amplamente usados no Brasil, especialmente entre nós pentecostais.

  • Perspectiva: Pearlman, embora não seja brasileiro, sua obra teve grande influência no Brasil. Ele defendeu a visão de que as profecias de Ezequiel se referem a um templo literal no milênio.

Visão de Ezequiel

Ezequiel 40-48 é a passagem que descreve a visão de Ezequiel sobre a nova Jerusalém:

  1. Medidas detalhadas do Templo:
  • Ezequiel dedica vários capítulos (40-42) à descrição meticulosa das medidas do novo templo, incluindo suas salas, pátios e arredores.
  • O templo é visto como o centro da nova cidade, simbolizando a presença de Deus entre o povo de Israel.
  1. Sacerdócio e sacrifícios:
  • Ezequiel 43-46 fala sobre a restauração dos sacrifícios e o papel dos sacerdotes. Isso destaca a continuidade do culto a Deus e a purificação do povo.
  1. Rios de água viva:
  • Em Ezequiel 47, há uma visão de um rio que flui do templo, trazendo vida e cura para a terra ao redor. Este rio simboliza a bênção e a restauração divinas.
  1. Distribuição da terra:
  • Ezequiel 47-48 detalha a distribuição da terra entre as tribos de Israel, ressaltando a restauração da ordem e da herança.

A Jerusalém Milenial em Ezequiel

A visão de Ezequiel nos capítulos 40 a 48 apresenta um detalhamento impressionante de um templo futuro e uma reorganização das tribos de Israel. Esta descrição é entendida pelos dispensacionalistas como referente a um templo literal e uma cidade restaurada durante o período milenar, quando Cristo reinará na Terra por mil anos.

Visão de João

No Apocalipse 21-22, João descreve a nova Jerusalém como parte de sua visão escatológica:

  1. Nova criação:
  • João começa descrevendo um novo céu e uma nova terra, onde a nova Jerusalém desce do céu, preparada como uma noiva adornada para seu marido (Apocalipse 21:1-2).
  1. Presença de Deus:
  • A nova Jerusalém é o lugar onde Deus habitará com os seres humanos. “Eis o tabernáculo de Deus com os homens” (Apocalipse 21:3). Não há templo na cidade, pois o próprio Deus e o Cordeiro são o seu templo (Apocalipse 21:22).
  1. Características da cidade:
  • A cidade é descrita como tendo muros altos, doze portões, cada um com o nome das doze tribos de Israel, e doze fundamentos, com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (Apocalipse 21:12-14).
  • As medidas da cidade são simbólicas e perfeitas, destacando a plenitude e a perfeição do novo estado (Apocalipse 21:15-17).
  1. Rios de água viva e árvore da vida:
  • Em Apocalipse 22, há a visão de um rio de água da vida, claro como cristal, que flui do trono de Deus e do Cordeiro. De cada lado do rio está a árvore da vida, que dá doze tipos de frutos e cujas folhas são para a cura das nações (Apocalipse 22:1-2).

Em contraste com a visão de Ezequiel, a descrição de João da Nova Jerusalém em Apocalipse 21 e 22:1-5 é claramente celestial e transcendente. Esta cidade representa a habitação eterna de Deus com seu povo, após o julgamento final e a criação de um novo céu e uma nova terra.

Semelhanças Entre As Visões de Ezequiel e João

  1. Presença divina: Ambas as visões destacam a presença de Deus como o elemento central da nova Jerusalém.
  2. Rios de vida: Tanto em Ezequiel quanto em Apocalipse, há a imagem de um rio que traz vida e cura.
  3. Restabelecimento e perfeição: As visões transmitem a ideia de uma cidade restaurada e perfeita, simbolizando a redenção e a ordem divina.

Diferenças Entre As Visões de Ezequiel e João

  1. Templo:
  • Ezequiel descreve um templo físico detalhado, enquanto em Apocalipse não há templo, pois Deus e o Cordeiro são o templo.
  1. Sacrifícios:
  • Em Ezequiel, há uma continuidade dos sacrifícios, simbolizando a purificação e a adoração. No Apocalipse, o sacrifício final de Cristo é implícito e não há necessidade de novos sacrifícios.
  1. Enfoque nas tribos e nos apóstolos:
  • Ezequiel enfatiza a distribuição da terra entre as tribos de Israel, enquanto João enfatiza tanto as tribos quanto os apóstolos, simbolizando a união de Israel e da igreja.

Conclusão

A visão de Ezequiel sobre a nova Jerusalém foca na restauração física e espiritual de Israel durante o Milênio, com um templo central e uma ordem sacerdotal restaurada. Já a visão de João no Apocalipse apresenta uma nova Jerusalém celestial no perfeito estado eterno, onde a presença de Deus e do Cordeiro elimina a necessidade de um templo físico e sacrifícios contínuos, simbolizando a consumação da redenção em Cristo.

Estas visões complementares enriquecem o entendimento teológico sobre a esperança escatológica, mostrando como a presença de Deus entre seu povo se manifesta tanto na restauração de Israel quanto na consumação da redenção final.